Pra você ler

- Encostei no muro da sua casa, rezei, e fiquei morrendo de medo de alguém me ver ali. Parada, bêbada,  olhando as estrelas e pensando em te pedir desculpas.
Mas sua mãe me viu, com os olhos inchados de tanto chorar, com as mãos raladas, e com o batom borrado. Não imaginava que sua mãe me trataria bem pela vigésima vez seguida, mas assim foi.
Tentou me contar como você era quando tinha 7 anos, e sua primeira vez na escola, e eu tentei ouvir, cheguei a sorrir, mas logo lembrei que você não quer mais me ver.
No moletom ainda tem seu cheiro, e todas nossas fotos estão espalhadas dentro do meu apartamento, mas é tão torturante te lembrar todos os dias.
Eu me sentei na calçada, rezei pra sua mãe aparecer, só pra me contar como você chorava quando estava com medo, ou como era suas risadas vendo desenho animado. E mais uma vez ela apareceu, e me disse muito mais do que eu queria saber, e me contou como você organizava seus carrinhos, e como adorava aquela camiseta azul. Eu tive tanto medo de gostar da sua família, e acabei gostando de todas histórias que sua mãe me contou nos últimos meses, e queria muito que soubesse como isso me faz bem.
Encontrei a maneira mais bonita de te lembrar, aconteceu quando decidi contar pra sua mãe como eu te conheci, e ver que ela acredita no meu amor por você. Encostada no muro da sua casa, acendi um cigarro, e pedi pro meu anjo da guarda te observar dormindo, e depois me contar.